O fato é que o silencio é parecido com uma salva de palmas quando acaba,
com a chuva dando tapas ou como a semente rompendo a vida através da
casca.
E assim, passo os dias com o corpo no balanço do mar de pó e areia,
umidade e mofo, contornos e esboços. A memória da ultima visita se
esquece com o tic do relogio que inventei pra lembrar do cheiro dos
passos e dos olhos que jamais se foram.
Um minuto ou duas horas, pés descalços ou olhos centrados, são tão os
mesmos quanto os de outrora. Mesmo a mágica da vingança aurea não
conforta as unhas rachadas, açoitadas pelo talho e continuam simples
como nasceram pra ser.
Mesmo a minha postura estática e distante inundando o quarto, o hall, os
jardins com uma infinita sopa de letras e numeros, é tão infertil em
sua tentativa de formar sentenças quanto os olhos e os ouvidos que a
condena.
E por isso peço perdão, não o meu, mas o seu por ser tão mais rico e
seguro de si quanto as faixas que me destilam na cama, que me desfiguram
em simbolos romanticos e que me açoitam como o vento à cana.
E assim passo meus dias com o corpo no descaso do copo
que traz consigo soluções de cores e formas sortidas zombando da minha falta de sorte.
Tic...Tic....Tic.....
"Eu vejo meus defeitos na sombra
antes que a sombra esclareça meus defeitos em mim."
Shade